"A imaginação é o que a Providência usa para levar os homens cativos na realidade, na existência, a fim de levá-los longe o suficiente, ou dentro, ou na existência. E quando a imaginação os ajudou a chegar tão longe quanto deveriam - então a realidade realmente começa."
Minha relação com a música é um pouco tensa. Quando estamos juntas ela exige atenção total, sem intervenções e sem interrupções. Fico temerosa devido à sua grandeza, às vezes parece ser cordial, receptiva como uma melodia vibrante, mas em outras situações ela está pronta a humilhar-me, e mostrar-me que nada sei e que nada sou. As reações dela não estão de acordo com sua natureza, mas é intimamente ligada à minha.
Muitos falam do seu poder, de como ela realiza grandes
feitos na alma do homem, E é verdade. Na música Folk, pude encontrar "as cores" dos povos, através de
melodias, o que havia no fundo da alma. Em "Kum
ba yah" ("Come by here"), pude ouvir o sussurro do povo, à
Deus, para que Ele pudesse os livrar do opróbrio e sentir o gosto da liberdade
plena, de tom em tom até virar clamor, Senhor venha aqui... A canção era
originalmente um apelo a Deus para vir e ajudar os necessitados, então lembro
dos nossos ritmos de orações, não seriam muitas vezes assim? Pedimos, intercedemos
e clamamos...
Em outra canção El cóndor passa, com
o arranjo inspirado na versão da talentosa cantora israelense Esther Ofarim, a
ideia de liberdade ainda percorre a angústia das almas cantantes. Ainda que não
seja uma canção direta dos povos, sua origem está em uma obra mais elaborada, a famosa melodia é homônima, inspirada nos povos que estavam em conflito, na
destituição da pátria, na ânsia de voltar ao lar e no voo do Condor. Depois de
terem sido produzidas mais de 4.000 versões da melodia, além de 300 conjuntos
de letras, é notório que a forma desta música, seu som, seu clamor tem algo a
dizer... Há algo escondido, no tom desses povos e será que o “condor” não teria
algo a “declamar”? O som que ele reproduz não é nada bonito, mais parece um
animal em agonia. Talvez com sua visão majestosa do horizonte pudesse o levar a
reconhecer aquela liberdade que os homens tanto anseiam, os que se inspiraram
em suas asas, no seu plano voo? Arrisco traduzir o “agouro” por ele: Por que
estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim? Espera em
Deus, pois ainda o louvarei. Ele é a salvação da minha face e o meu Deus. Salmo
42:11
Em meus estudos, necessários para vida e para o trabalho, me
deparei com algumas curiosidades sobre arte, música e alma. Lendo o livro do Dr.
Daniel R. Berger, A insanidade da loucura,
revivi uma situação que aconteceu, recentemente, com dois mestres queridos. Um, era o
mestre da alma, o sábio que sabe discernir os olhares. O outro era mestre das
harmonias, em um estado misto de inspiração e confusão. Depois de recital de
final de semana, minha alma ficou extremamente preocupada com o teor do
recital. Melancólico, triste, desvanecido e brilhante. Não existe nada melhor
do que um mestre da música pra colocar a alma pelo avesso. Mas era necessário
cuidado, pois para mim parecia que tinha ido longe demais... Mas a reação do mestre dos olhares, ante a perturbação do mestre das harmonias foi fascinante!
Não podia acreditar, mas era isso mesmo. Daniel Berger autenticou o que foi “diagnosticado”.
Quem se aventura em mergulhar em caminhos tão “brilhantes” recebe um presente
especial. A ordem Louvai ao Senhor, não é um mero chamamento de conveniências
religiosas. Nem mesmo um atavio qualquer de sua igreja. É um encontro mágico,
onde as vibrações são etéreas. O cuidado do Deus físico-matemático sobre a
coroa da sua criação é constante e leal e também está na graça comum. Aleluia!
Em nossos recitais Folk seguíamos a linha do mestre das
harmonias. Inspirado em “Chopin”, seus tons tristes e melancólicos soavam como
um profeta quanto ao estado real do mundo, a busca de liberdade e esperança. De
tudo que havíamos trazido ao público: ausência, solidão, tristeza, tristes
partidas, morte, desilusão... a música All My Trials, era a
pá-de-cal. De origem desconhecida, utilizada em protestos, o grupo the seekers soube traduzir o que ela
significava: uma canção de esperança. O público em peso chorava, achando que
era o fim mesmo de tudo, alguns nem entendiam a letra, mas era pela força da
melodia, do som que os quebrava.
A música é sempre um agente divino pra conduzir a alma à um encontro transformador. É assim que eu me sentia concluindo o recital, espetáculo, o louvor público, foi dito, foi vivido. Cantar a verdade da alma é um desafio, mas satisfaz o coração, principalmente quando temos a esperança da real liberdade. (Olharam para ele, e foram iluminados; e os seus rostos não ficarão confundidos - Salmos 34:5). Antes de All My Trials também cantávamos Paz no Vale, de Feliciano Amaral, uma versão do hino cantada por Elvis Presley o que era um refrigério antes do fim:
Estou cansado e sem forças, porém tenho que avançar
Até que Deus me chame a seu Lar
Onde as noites são claras, são claras sem par!
Sei que algum dia, no vale, só haverá a paz
Só haverá paz no vale, para mim, eu sei
Não haverá tristeza, nem perdas, nem lutas ali
Só haverá paz no vale, para mim, eu sei
Lá o urso é manso e o lobo também
O cordeiro e o leão se dão bem
Crianças conduzem as feras com amor
E a terra se encherá, oh, sim, desta paz
Sei que algum dia, no vale, só haverá a paz
Só haverá paz no vale, para mim, eu sei

Comentários
Postar um comentário