"Lugares santos são lugares escuros. É vida e força, não conhecimento e palavras, que temos neles. A sabedoria sagrada não é clara e fina como a água, mas grossa e escura como o sangue."
~C.S. Lewis, Até que tenhamos rostos
Há mistérios em nossa jornada, acontecimentos inesperados que nos direcionam para o destino a que fomos predestinados. Caminhando observo que no meio do nada surge uma torre, uma construção silenciosa, com tons escuros e terrosos. Dentro dela há uma pessoa que se chama Solidão. Vou ao seu encontro, em passos lentos, até tento desviar, olhar pra outros horizontes mas continuo, sem parar. Eu sei que ela me observa, que tem algum conhecimento sobre mim fora do tempo, mas nem por isso eu retrocedo. Quem fez a torre a fez para suportar as piores tempestades, com rochas grossas e firme alicerce e, ela, que me vê, está lá como uma guardiã. O silêncio é sua marca registrada, seus olhos parecem congelantes, bem penetrantes. Com postura altiva costuma ficar na mesma janela, onde possa observar homens e mulheres em sua peregrinação. Do outro lado de sua morada fica o mar de lágrimas, em dias calmos pode-se ouvir o som dos pássaros e o canto lento das baleias. Mas ela não está lá por causa de dias assim.
Não é que eu a tema, ela nem parece ser tão assustadora, mas é que todas as vezes que se coloca em sua "missão" acontecem situações extremas. Surgem aqueles conflitos onde as decisões pesam nas mãos, onde as motivações se consolidam, onde as vísceras do coração são expostas, e há gritos e esperneios da alma. Sua grande missão é tirar o véu e deixar visível e tangível a terrível face da Verdade. Nesses dias o mar se torna completamente revolto e assustador. Suas ondas cobrem os muros e quando arrebentam fazem questionar se eles vão aguentar tanta força. Uma vez dentro da torre a sensação é que ela vai me esmagar, parece que irão surgir braços de todo lado e pés que vão pisar sobre minha cabeça e nas paredes há espinhos em forma de coroas, preparados para ferir a mais dura consciência. Ainda dentro de lá, na morada da temível guardiã, tudo causa repulsa e medo, alguns fazem qualquer negócio pra não passar por perto, pois ninguém quer adentrar nesse lugar... sozinho, já que não se pode levar nada e nem ninguém e há rumores de muitos gritos e gemidos em seu interior. O que acontece nesse lugar não acontece em nenhum outro, é um misto de morte e renascimento. Uma vez um grande Rei aflito passou por lá, pois desejava força e companhia num dos dias mais importantes de nossas vidas. E ela estava lá, e também o observava.
No Reino desse Rei, o Soberano, ela possui outro nome e função. Aqueles que são de lá bem conhecem esse segredo por causa do contato com a Verdade. De repente mar se acalma a até parece retroceder e um imenso prazer de estar caminhando sobre as águas invade o seu coração. De longe é possível ver a paz e a esperança, que parecem estar de mãos dadas com a temida guardiã, agora vestida de seu novo nome. As feridas causadas pelos espinhos não assustam mais e se tornam a experiência de dor mais agridoce que o homem pode experimentar. A Verdade se revela em um tom esplendoroso multicolorido e brilhante, translúcido, incomparável com qualquer coisa que tenha visto. De forma irresistível você sorri chorando, por que você é amado verdadeiramente. O nome da guardiã é Contentamento, poder que esse mundo, sem o conhecimento da Verdade, jamais conhecerá, algo salta no peito, o leve consolo divino, o toque celestial que nos abraça e nos conduz.
Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz, para nós, um peso eterno de glória mui excelente; Não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas. - 2 Coríntios 4:17-18 ARC

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