COMO UM AGRADÁVEL AROMA...



Quando eu era criança, em idade escolar, lembro-me de um dos prazeres que tinha era de sentir o aroma do livro novo! Abrir as páginas, ver as novidades, os desenhos, textos e desfrutar aquele cheirinho maravilhoso! Era bom demais. Certo dia, já na adolescência, me dei conta de que aquele ritual iria acabar, assim que eu concluísse meus estudos, e foi quando tive um certo pavor da certeza de algo tão prazeroso não iria fazer parte do meu futuro. Mal eu sabia que aquele cheirinho me acompanharia por muito e muito tempo! 

Quando olho hoje pra uma criança, vejo o público principal do meu trabalho, reconheço nela os  elementos que necessito para desenvolver um universo de fantasias. Ainda bem que lembro da minha infância, desses detalhes inocentes de perceber a vida passar, sem dar importância, de olhar pro chão e com um galho na mão desenhar vestidos, os que nunca tive, mas que também não precisava ter, eles já estavam lá no chão, e pra mim já era suficiente, embora o vento ou a chuva viessem a apagá-los, não faltavam ideias pra criar outros, até melhores. A ideia de valor não era exatamente de um investimento de longo prazo, mas o agora era a hora mais importante de enxergar o mundo. 

Jesus fala dessa natureza infantil com louvor em uma advertência: “Deixai vir a mim os pequeninos. Não os impeçais, pois deles é o Reino de Deus. Com toda a certeza vos asseguro: aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, jamais terá acesso a ele."

Como uma criança recebe o Reino? A principal atitude dela é crer com todas as forças, no agora. O Reino é uma realidade tangível para criança, por que os muros do orgulho de sua prisão ainda não estão levantados, embora o alicerce do pecado seja real desde o seu nascimento, ela não pensa no que ganharia ou o que perderia, e ainda percebe que o Mestre está na sua frente, e se alegra, por que Ele a chamou. A criança não se importa com o que haverá de vestir, ou comer... Jesus nos alertou sobre o perigo de andar ansiosos, mas uma criança não tem essa preocupação... outros cuidarão disso pra ela, pelo menos deveria ser assim.

Em nossos dias, a melancolia nos ataca por que ponderamos da vida já como velhos, cansados do dia a dia, das fadigas, da rotina, com olhos cinzentos, aborrecidos com as cores do mundo, amargos, olhando pra o futuro e o acusando de roubar nossos sonhos e planos, (imaginando a cara de indignação do futuro como um personagem) angustiados suspiramos, e nos orgulhamos de sermos tão preocupados... e o agora se torna invisível, impossível de ser praticado. 

Por fim... a criança não se preocupa com o futuro. Ela nem tem ideia do que venha a ser... e deveríamos fazer o mesmo! Não temos como saber o que acontecerá amanhã. Cansei de planejar o meu dia e dar tudo errado. Sofremos por antecipação com coisas que nunca acontecerão por que não aceitamos a ideia de que o futuro não nos pertence. Que venhamos a confiar naquele, que é o Autor e Consumador de toda história, que pode nos surpreender, com um agradável aroma todos os dias, o Aroma de Sua Presença, e assim, sermos bem-aventurados, vivendo o seu Reino, que não é fantasia, tal como ele o é  para muitas crianças.

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