Como artista visual, o olhar pra mim tem um significado distinto. Posso olhar as bordas de uma imagem e em seguida, posso ver as sombras que ela traz. Depois ela me diz qual é a profundidade, o volume e a altura que tem e se possui milhares de cores, de degradês e onde existe equilíbrio e distorção. Mesmo que ela exista só na minha mente.
Ao ler o livro de Betty Edwards*, descobri que o olhar pode ir muito mais além, e aperfeiçoar a técnica da contemplação, do vislumbre, dos detalhes. A percepção é ampliada, junto com a "guerra de lóbulos" e foi aí que entendi o que era o estado "alfa", que tanto os meus amigos falavam, e não é "bizarrice" é científico! Para os curiosos, o estado "alfa" é o período onde os olhos vêem, mas a audição não funciona, nem o paladar, não há a percepção do tempo e o seu organismo parece funcionar lento. É a hora da arte!
Conheço um mestre, um sábio, um homem que conheceu os horrores da alma humana de perto e de dentro**. Outro dia em uma conversa instigante, me falou que iria escrever um livro, cuja inspiração estava nas palavras de Leonardo da Vinci que disse: “os olhos são a janela da alma”. A inspiração do artista também vinha de outra fonte, a Bíblia: "os olhos são a candeia do corpo, e que se nossos olhos forem bons, todo o nosso corpo terá luz (Mateus 6:22). Desvendar a alma de "perto e de dentro" é como cavar um poço profundo. E eu sempre achei que era o trabalho mais difícil do mundo! Foram anos de um olhar treinado, para discernir cada quadrante, e cada movimento fulgaz que podiam trazer desespero ou delírio. Mas é assim que ele diz: "Só preciso ver o olhar, é o bastante pra entender o que traz a alma". E geralmente ele é certeiro.
Dentro dessas duas realidades, da alma e da arte, percebo que o olhar é dependente da palavra, de uma definição exata. A arte não pode ser gerada de algo que não foi pensado, ou traduzido em palavras. Ainda que sejam "lóbulos inimigos", segundo Betty Edwards, a razão dá norte à natureza cognitiva, assim como o conselho para a alma aflita. A visão cognitiva nos dá a beleza à um mundo matemático, cheio de ângulos exatos, mesmo em superfícies imperfeitas, que segue um micropadrão entrelaçado e belo, puro design, tal como o caminho da libertação da alma inquieta, presa em um mundo cinzento, de autoafirmação, e inerte as coisas criadas, de milhões de cores, que estão em toda parte, e também em pequenos detalhes.
Mas, e o além, como se enxerga além das nuances do corpo e da alma? Como olhar de longe e profundamente? O "olhar além" está na contemplação do Autor de todas as coisas. A palavra, O logos, é quem dá sentido à execução da arte e a existência da alma. Olhar profundamente é perceber uma realidade espiritual, de maneira sobrenatural, e que parece não ter fim. Lembro-me das palavras de Paulo: "Para que Cristo habite pela fé nos vossos corações; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo (Efésios 3:17-19) A arte de olhar além reside, então, em contemplar, pela palavra, Aquele que pode desvendar e reconciliar essa guerra que existe dentro de nós e nos conceder, pelo amor, a redenção: "Olharam para ele, e foram iluminados; e os seus rostos não ficarão confundidos." (Sl 34:5).
* Desenhando Com O Lado Direito Do Cérebro
** A Invisibilidade da Dor

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